domingo, 25 de agosto de 2013

Confluência...

Junção, integração, união.
Descobri que a isso se deve o meu papel para com a Libertinas, para com meus clientes, amigos, vizinhos, transeuntes... para com a vida! E uma vez despertada a fome de renascer e encontrar o equilíbrio, veio a necessidade de transbordar, ir além da minha borda, comunicar, filosofar, aprender através do sofrimento e com coragem crescer. Afinal, a busca é o começo, o meio e deve ainda ser o fim. As evidências provam que, por exemplo, uma gestante que toma para si todas as garantias de um parto normal apenas pela sua vontade terá grandes chances de, quando parturiente, pela fragilidade do momento e pela falta de informação, ser conduzida para o abatedouro, mais precisamente para uma "desne-cesária" (termo usado pelos ativistas da Humanização do Parto para definir casos de agendamento de cesária fora de trabalho de parto e sem indicação real). Para acontecer o empoderamento a mulher precisa estar munida de conhecimento que a assegure que as influências externas não vão interferir na viagem que é um trabalho de parto.
 


"Importante é saber, mas mais importante é nunca perder a capacidade de aprender.
Nós somos aquela parte do planeta que sente , que pensa, que cuida. Nós somos o planeta. Eu acho que o céu é a integração de toda a criação de Deus". Leonardo Boff
 
    A confluência de cada escolha feita por mim mais as experiências vividas, as oportunidades, os fracassos, tudo isso convergiu para o exercício de uma função que descobri ser minha e tomá-la como um objetivo de vida. Como bem respondeu o escritor Rubem Alves numa entrevista, quando perguntado sobre como ele havia se preparado para chegar onde chegou, qual a receita para uma vida vitoriosa de sucesso, ele respondeu: "Eu cheguei onde cheguei porque tudo o que planejei deu errado". Tomo para mim essa resposta considerando-a reconfortante. Passei anos a fio me considerando uma farsa por saber que nunca tive metade do conhecimento que fazia os outros acreditarem que eu tinha, quando sequer poderia ter pois o tempo era gasto pensando em como fazer as pessoas acreditarem que eu era aquilo que eu não era. Quando resolvi sair da caverna descobri que minha ignorância era plena e total quando eu achava que sabia algo e o vazio tomou conta por alguns meses, o que melhorou quando comecei a entender que eu só sei que nada sei e nunca saberei, inclusive sobre mim mesma. Porém, o ímpeto de adentrar a mística da vida e experimentar viver no desconhecido é como me jogar no abismo e ver que ele jamais existiu, fora de mim, ao passo que minha alma se apresenta como um infinito buraco negro, totalmente desconhecido. E o caminho continua a valer a pena pois para os olhos da alma o buraco ser negro, escuro, não quer dizer que seja sombrio, assim como os olhos físicos não se ofuscam pela luz que ilumina a alma (que de tão forte os cegaria ), pois a alma está além da racionalidade do medo do escuro ou da incômoda claridade. O lumiar da alma é o conhecimento e com ele a fazemos ascender.
 
    Nietzsche, por exemplo, era movido pela transformação, porém ele viveu num tempo marcado pela euforia moderna, tomado pelo apego ao futuro, pensamento comum a década de 50 (viver preparando os filhos para o futuro) onde tudo seria melhor e principalmente que através da ciência nós resolveríamos as dores. Alguma coincidência com os tempos atuais? Ao mesmo tempo ele estuda os gregos pré-socráticos, cujo pensamento era mediado pela arte, a ideia de verdade não era uma ideia clara, sendo o pensamento fundado no devir, que seria a vida como um processo de transformação constante. Tudo muda o tempo inteiro, nada é fixo e era essa a ideia que atraía Nietzsche e para ele os pré-socráticos eram verdadeiros filósofos que conjugavam de igual maneira a arte, o pensamento e o saber.
   Segundo Nietzsche toda a nossa história, filosofia, arte e tudo o mais que o pensamento produziu foi baseado num homem que nunca será pelo homem alcançado e a partir disso ele aponta a ideia de Niilismo que ocorre quando todos os valores superiores perdem a importância. É impressão minha ou é exatamente o que assistimos dia após dia?!

   Ao que me parece o atual conceito de civilização está muito próximo ao que o filósofo Nietzsche chamaria de barbárie, que é a transformação mercadológica de todo e qualquer tipo de saber e atividade intelectual, espiritual, etc, algo que vem acontecendo cada dia mais. Afinal, há uma generalizada industrialização de tudo o que deveria ser natural, inclusive a interação tão promovida pela tecnologia mas só nos distancia mais e mais e cada vez mais precocemente (logo ao nascer). Com isso perdemos mais e mais a nossa essência. Quanto mais civilização menos humanização.

"Ocupamos nosso tempo com todas as distrações que a sociedade pode nos apresentar. E ainda, não param de subir os índices de tristeza, depressão, insatisfação, tédio. Buscando alegrias fora de nós cada vez menos somos capazes nós mesmos de gerá-las. Com tantas rotas de fugas existenciais falhamos em percerber e em exercitar a capacidade de lidar com as intempéries da vida, tão invitáveis como qualquer fato natural. Preocupados em sermos mais tecnológicos, perdemos a chance de sermos mais humanos", escreve Gustavo Dainezi (comunicador formado pela USP , especialista em Filosofia da Comunicação)  à revista 'filosofia'.

   Eu cresci numa verdadeira confusão complexa e profunda onde os parâmetros dificilmente se aplicariam. Numa sociedade onde o adultério era quase aplaudido se partisse dos homens (nada mudou) e levava à fogueira difamadora das línguas fofoqueiras as mulheres, que muitas vezes ainda apanhavam dos seus cônjuges sob o olhar punitivo da sociedade para com a que apanhou (mudou nada). Nesse cenário, como eu poderia relatar a minha realidade, onde a inversão fazia com que o papel de "homem da casa" já pertencesse à minha mãe, algo fora do padrão da época. Sendo caçula de 5 irmãos com 3 irmãs cerca de uma década mais velhas, eu vi, ouvi e presenciei o suficiente para exorcizar boa parte dos meus monstros femininos logo na  infância.
   Foram diversas peculiaridades inatas desenvolvidas através da observação, pois quando não há um ou dois cuidadores e sim quem tiver disponível, você precisa aprender com os exemplos ou será pisado pela manada pois é fato que os adultos (entenda-se qualquer um que não seja mais criança), até quando tentam cuidar atropelam as ideias e ideais das crianças. Eu tinha que me virar.
   Esse universo temporal onde habitei por 19 anos, o meu núcleo familiar, me permitiu colher impressões sobre diversos aspectos da nossa feminilidade (e falta dela), em particular, naquela família. Por muitos anos neguei esses aspectos que são peculiares à minha origem e hoje entendo que negar, esconder ou ocultar-me desse encontro seria protelar um evento que é natural na evolução do processo de autoconhecimento. Vale ressaltar que o efeito benéfico de aceitar nossa identidade quando normalmente a rejeitaríamos e jogaríamos rapidamente para debaixo do tapete é... ACEITAR!
  
   Vivi algumas  experiências religiosas bem como conheci a pornografia, ou seja, fui de um extremo à outro ainda na infância.
   Quanto à religião,  a obrigatoriedade em comparecer a todas as missas e estar sempre interagindo com as atividades da comunidade cristã donde cresci me distanciaram de qualquer relação minha com a espiritualidade tão logo pude optar, pois ainda havia um sentimento de cumprimento de dever muito maior do que vontade de presenciar o mistério da fé que é a transubstanciação da hóstia, dogma que eu creio e hoje simplesmente viajo no ritual. Além do fato de que existem sim alguns sacerdotes capazes de nos fazer ir muito além numa celebração religiosa.
   Rebato ferrenhamente tudo o que a instituição igreja gerou impedindo uma evolução que trata de séculos e uma infinidade de conhecimento (inclusive espiritualmente, que ironia, não?)  que  estava em PODER de poucos (maldito poder) e continua estando, séculos depois. 
   Perceba pois que, como tudo o mais, religião não é um assunto em que eu procure ou encontre uma verdade e sim mais um objeto de experimentação que diz respeito  à espiritualidade e tem sido um diferencial positivo na CONQUISTA de bem estar e paz de espírito.
  
   E o autoconhecimento nos permite a liberdade da experimentação com todo o cuidado que uma criança tem, quando sabe que pode apanhar, cair, se machucar e até mede as consequências, mas dificilmente deixará de sentir a emoção de pular o muro, por exemplo.
   Se, quando criança, eu me permitia a experimentação e a partir disso obtinha todo um mundo de sensações e surpresas, o que me afastou disso quando eu cresci?!
Gustavo Dainezi, o comunicador citado acima relata que Sócrates tomava seus interlocutores pela fama que esses tinham: 
 "Assim, conversando com um famoso general, buscava saber dele o que é coragem. O que Sócrates descobre é que estes doutos senhores sabem muito bem a técnica da guerra, porém não sabe por que guerreia. Sócrates refutava os sábios até que desistissem de definir aquilo que os movia, levava-os à exaustão até que eram obrigados a reconhecer que viviam sem saber, mas achando que sabiam. O homem é ignorante duas vezes. Vive sem saber das coisas e não sabe que não sabe. Ele entendeu a condição de todo homem, que é a de tentar buscar as verdadeiras ideia para guiar a vida. Que o homem deve assumir o seu lugar na natureza, o lugar de não ser deus. Conhece-te a ti mesmo marca a posição do homem: frágil, de não -se, de não saber. Viver buscando é bem melhor do que viver no engano."
 
 
Porém, como Nietzsche eu não creio em verdades absolutas. Creio que cada um ainda tem a lembrança do gostinho de céu e vive em busca de senti-lo novamente.  E eu respeito a busca de cada um. Mas o céu de felicidade que todos queremos, quando relatada por alguns dos sociólogos, filósofos, antropólogos, neurocientistas, etc, que tem servido de base para meus estudos, fala de uma felicidade impossível de ser perene, pois sem saborear o sofrimento não há como reconhecer sequer a alegria, imagine a felicidade. Que esta que é objetivo de vida de muitos é procurada fora mas a resposta está dentro. "Conhece-te a ti mesmo". A máxima, ou aforismo teve uma variedade de significados atribuídos a ele na literatura. Uma enciclopédia grega de conhecimento do século X, diz: "o provérbio é aplicado àqueles que tentam ultrapassar o que são" e não é a toa. Para conhecer a si é preciso encontrar os monstros mais ferozes pois somos nós que os carregamos, dia a dia. Mas, assim como quando crianças encaramos o armário escuro para perder o medo do bicho-papão, temos que olhar nosso armário interno de vez em quando mesmo com medo. Aproveita quando conseguir entrar no porão da sua alma e faz uma faxina, arregaça as janelas para deixar a claridade entrar, arejar...
 
 
   Ouvi por anos a fio que uma vida a dois não é conto de fadas, o que se julgava desnecessário ressaltar levando-se em conta o fato de que se fosse para considerar os padrões de casamento que me foram apresentados na infância e adolescência provavelmente eu estaria sozinha ou presa a uma relação sabotadora.
   Porém, felizmente posso relatar uma experiência que dura 10 anos, que não foi fácil de ser construída e nem um pouco florida, mas que tem nessa luta diária de sangue dando na canela a compensação de podermos observar o crescimento de cada componente da família de forma contínua, crescente e de forma nunca antes pensada. Eu mesma nunca mensurei uma vida assim, onde se faz da falta a fartura. Isso para mim é conquista. Isso para mim é felicidade.
 
 
"Ostra faz pérola, mas não é toda ostra que faz pérola, só a ostra que sofre, porque a ostra para produzir a pérola tem que ter um grão de areia, tem que ter alguma coisa que a irrite e ela vai produzir a pérola para deixar de sofrer, para que aquele ponto agudo, cortante, seja envolvido por uma coisa lisinha que é a pérola."
                                                                                                                                         Rubem Alves
 
 
   Esse apanhado de alguns períodos dessa minha vida, juntamente com exemplo, citações e teorias embasadas em grandes pensadores e também teorias saídas da minha caixola têm hoje o papel de traduzir o que quer dizer confluência.  Tudo o que diz respeito ao bem caminha na mesma direção, independente se trata de religião, filosofia, psicologia, psicanálise, física quântica, enfim. Não há separação quando fazemos parte de um todo que é indissociável. A Natureza é indissociável, todos nós viemos dela, nela e nenhum de nós sobreviveria um dia sequer sem o que ela nos provém. No entanto, insistimos em controla-la, dominá-la e o que é gerado através disso é destruição. Uma tomada de consciência no sentido de união seria um primeiro passo para  alcançarmos uma primeira retomada de energia positiva. Nosso planeta precisa, e agradece!
 

 
Gratidão. 

Arlene Lima
Libertinas - Consultoria Íntima
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*Fontes:
Revista Filosofia, nº71, página 14. Matéria de capa
 


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